"top"
a língua é uma espécie de organismo vivo: alimenta-se do que há, do que é dito, faz a digestão disso tudo e depois já sabem como é: umas vezes vomitamos, outras, concluímos o processo com o final que todos conhecemos - pelo meio armazenamos coisas, tipo gorduras massa muscular.
a linguagem que se usa no dia-a-dia é influenciada por tantas e muitas coisas: pelo nosso trabalho, pelas leituras que fazemos, pelo grupo de amigos.
estive hoje em conversa com uma 'ssoa, 1h e picos. um projecto à volta do design thinking. do pensamento desenhado? do design para o pensamento? pois, eu compreendo, não é fácil de traduzir (traduzir é quase sempre uma traição).
pelo meio, coisas como:
"isso é na fase da research... ah tens que pensar nas discoveries que eles podem fazer... acho que vai ser uma coisa mesmo top... precisamos de tools para facilitar o brainstorming..."
eh pah.
EH PAH.
dei por mim a pensar na quantidade de termos em inglês - e para os quais há palavras boas, mas boas, em português - que por ali apareciam. e na forma como isso molda o nosso pensar e a nossa visão sobre as coisas.
sim, dou por mim a dar formação e a dizer "analytics" ou "insights" ou coisas do género. é verdade, não sou imune a estas coisas e a este novo linguajar.
acho que aquilo que mais me agasta é reduzir tudo a TOP. isto é top, aquilo é top, eu sou top, tu és top, ele é top.
somos todos top.
somos todos coisas de algodão ou de licra que servem de suporte às mamas aos seios.
e eu recuso-me a alinhar nesta redução ontológica. pronto!