cá em casa nunca houve o hábito de fazer festas de aniversário. eram coisas dispendiosas e manteve-se a tradição de apagar as velas e comer uma fatia de bolo, em família. há muitas fotografias desses tempos: eu a soprar as velas, ao lado do mano - e ele a soprar as velas do bolo dele, comigo a seu lado. o mano faz anos a 30 de maio e eu a 2 de junho. três anos de diferença e tantas diferenças. e uma sintonia estranha.
e eis que fiz 40 anos. é mesmo só um número, pois não sinto assim nada de diferente. para celebrar fui fazer 4 tatuagens, uma por cada década de vida (mentira, fui fazer 4 rabiscos pois fica-me mais em conta e o rapaz dá uso à agulha como deve ser). marquei a sessão com alguma antecedência pois precisava perceber se o que tinha no mealheiro chegava para o que queria fazer. não comentei com ninguém, mas percebendo que o mano estava de férias, mandei sms: "queres vir comigo? vou fazer umas tattoos?" ao que o mano respondeu que estava ocupado e não ia dar.
mais tarde ele mandou uma foto com a razão da sua "ocupação": pois é, também ele tinha ido tatuar-se, sem dizer nada a ninguém. "somos mesmo irmãos". e somos. com tudo o que temos de diferente, há coisas que são muito nossas.
os manos Sousa são assim: comemoram o aniversário em silêncio, com tatuagens ou com o que lhes apetecer. deixámos de soprar velas há uns anos, mas isso não significa que não haja outros momentos doces, em família.
Ando pela rua e ninguém repara no jardim enorme que levo na minha cabeça. Quando entrei no meu quarto, ainda trazia o jardim. Pousei-o no meu diário, precisamente na frase anterior.
tinha uma grande paixão por esta senhora: "A" Simone. ainda tenho. tive o privilégio de tomar café na sua companhia, a propósito do café central da revista geradora mai'linda da vida que é o #4.
conheci o Filipe há uns meses, através da Susana e do João, do estúdio free ink, em sintra. partilhamos o amor pelas tattoos - isso é mais do que óbvio.
quando soube que o Filipe ia começar a tatuar, fiquei muito contente. ele é super dedicado e atencioso e daria, na minha opinião, um excelente tatuador. ofereci-me para ser uma "cobaia" nas suas mãos. cedi-lhe pele, na troca de um desenho que ele achassse que "era a minha cara". e é. mas mora no meu gémeo direito, lado a lado com a minha primeira tatuagem.
se estou satisfeita? muito. adoro a nova tattoo e ainda mais o facto de ter contribuído para o crescimento deste novo artista da tinta e da agulha.
tinha luvas pretas e uma máquina que fazia tssss tssss tsssss, com umas agulhas. e deixou-me uma alice tatuada na pele. uma alice curiosa, ávida por abrir novas portas e descobrir novos mundos.
sabemos que a curiosidade matou o gato... mas no caso da alice é a curiosidade que lhe dá vida.