:: não digas tudo, deixa a vida surpreender-me ::
sou fraca de memória e não há centrum ou memofante que me valha. as pessoas dizem-me coisas e eu não as consigo decorar. disseste-me isso? não me lembro.
não é desinteresse, tento eu, em vão, explicar. quando trabalho num projecto, escrevo as coisas que me dizem. caso contrário, esqueço-me. envio e-mails a mim própria. consigo recordar-me da página onde escrevi as coisas, da cor da caneta, se usei post it coloridos ou não. mas isso é trabalho. as cábulas são permitidas.
com as minhas pessoas a coisa fica complicada. é fácil que esta minha incapacidade seja entendida como falta de interesse. não é. lembro-me dos cheiros, do olhar, do toque, do momento, das coisas que acabo por cristalizar. pergunto coisas repetidas, eu sei. e obrigo a que repitam respostas. eu sei, é horrível.
recuso-me a tomar notas, no que às minhas pessoas diz respeito.
durante esta semana que passou trabalhei com uma pequena de 7 anos, a M. uma das primeiras coisas que ela disse foi "eu tenho memória de curto prazo: tu dizes-me uma coisa agora e depois eu não me lembro logo a seguir". uma dory, sim. eu sou um bocadinho assim. por outro lado, ainda me lembro do número de aluna da faculdade, nos tempos da licenciatura. e compreender isto?
"não digas tudo, deixa a vida surpreender-me" - e tu, vida, deixa-me repetir perguntas, sim?