... os meus afilhados, ambos os dois, encontram famílias que os querem adoptar. não é maravilhoso? a Ginger está bem e feliz, já nos chegaram fotografias que são um mimo.
o Fred teve visitas e uma família decidiu levá-lo de fim-de-semana, para ver como é que ele se adapta à nova vida.
é bom que as famílias tenham consciência que muitos destes cães nunca conheceram uma vida além do albergue e que, por isso, precisam aprender novas rotinas. isso nem sempre se consegue nos primeiros dias. é preciso paciência, tempo e amor.
mixed feelings, again.
há umas semanas com a Ginger, cujos adoptantes tive oportunidade de conhecer.
agora com o Fred. como sabia que não ia poder estar no albergue para acompanhar os possíveis adoptantes, antecipei o meu dia de voluntariado, fui dar uma ajuda ao Frederico (pessoa humana) que estava a fazer as férias da tratadora Sol e aproveitei para amarfanhar o Fred mais um bocadinho. e disse-lhe: juízo, estas pessoas apaixonaram-se por ti, querem adoptar-te. aproveita a oportunidade.
e agora? agora fingers crossed. e muitas saudades, claro que sim!
largar uns impropérios e dar um puxão de orelhas ao universo.
o outono trouxe boas notícias. podiam ser melhores, sim. mas se a minha avó não tivesse morrido, ainda hoje era viva, certo?
o Heraclito arranjou poiso para o ano lectivo. e isso é coisa para me deixar muito feliz. ter saúde, trabalho e a fazer aquilo que me faz sentir viva - isso, caro universo, é coisa que me faz sentir grata.
beijinho bom às 'ssoas que acreditam no meu projecto e no meu trabalho.
(sim, vai haver filosofia no 1º ciclo aqui a 3km da aldeia. e toda a gente me pergunta se sou eu quem vai assegurar. a minha resposta é não. "ah mas é bom, haver filosofia, não é?". claro que é. mas, permitam-me a humildade, não é comigo. logo, não será nunca a mesma coisa)
pezada no banco da cozinha, numa perseguição épica atrás de Félix The Dog que por sua vez perseguia Kioko the Blue Dog. e olhem, fiquei sem respiração, devo ter mudado de cor e soltei um ou outro impropério.
não estava descalça, mas quase.
e depois? depois foi um 31 para enfiar o pé no 38 das botas. mas lá fui, para uma reunião de apresentação de projecto de filosofia para crianças, em AEC. uma última tentativa.
soube ontem que um agrupamento e uma junta de freguesia decidiram alinhar pela filosofia para crianças, depois de um pai ter insistido, após conhecer e divulgar o meu trabalho. e contratar-me, que é bom? pois, nada.
o ânimo para a reunião não era o melhor - as dores não são só no pé, que ficou negro. são na alma. "ah tu mereces tudo e vais conseguir" - dizia-me hoje um amigo. pois mereço. mas não é certo que consiga e não será por estar sentada à espera no sofá. não faço outra coisa a não ser promover e mostrar o meu trabalho, enviar e-mails, pedir reuniões. e tantas vezes encontro vazio e ausência de resposta.
lá fui. sim, consegui conquistar as pessoas para a filosofia e para o meu trabalho. conseguimos até arranjar um horário fixe. até estou confortável (não tenho outro remédio) com o facto de me irem pagar um valor mais baixo por causa dos IVA e das retenções do IRS a que estou sujeita. a questão é que não são estas pessoas que decidem. ou seja, vim de lá com as mãos a abanar e uma nódoa negra no pé - que já levava - e outra na alma.
a vida é feita de escolhas e consequências - e em última instância esta foi a vida que eu escolhi (momento tony carreira). bem que o filho da meretriz do universo se podia lembrar de mim de vez em quando e retribuir-me o investimento que faço para o tornar melhor. era só isto.
e agora? hirudoid, fingers crossed, passiflora e motivação para continuar.
apadrinhei o Fred, na UPPA, logo quando o meu mano iniciou o voluntariado por lá
quando o conheci, numa visita ao albergue, foi impossível não me apaixonar também pela Ginger, sua irmã, com quem partilhava a box
o Fred e a Ginger cresceram na UPPA. tem 2 anos e picos, não sei se já têm os 3 anos feitos.
sei que criei grande empatia por eles e foi graças a eles que conquistei parte da autonomia disto de ser voluntária na UPPA: escolher coleiras, trelas, ir à box em segurança, colocar-lhes a coleira e trela e seguirmos caminho no passeio, "ambos os três"
a Ginger recebeu visitas de uma família que queria adoptar uma cadela, porte pequeno-médio, jovem. a família regressou para novo passeio e tomada de decisão.
assim, a Ginger foi passar uns dias à casa nova e eu fico a torcer MUITO para que ela adopte e se adapte a esta nova vida. é um doce de menina (o olhar dela, os "beijinhos", o carinho) e merece estar com uma família
ontem foi um dia de mixed feelings: sim, queremos MUITO que os patudos sejam adoptados e sejam felizes nesse processo. e sim, custa um bocadinho o último olhar, o último amarfanhar de bochechas.
espero que a Ginger faça tudo para não voltar ao albergue. acho que ela não se magoa comigo se eu disser que não a quero de volta à UPPA.
fingers crossed? ;)
e agora, todo um Fred para eu amarfanhar na UPPA. e a esperança de que ele também consiga uma família que o possa adoptar - e que ele adopte ;)
o nome é Aylan Kurdi. podia ser João, Bernardo, Santiago, Francisco, Leonor, Joana, Camila, Rita. um rosto, uma família, uma vida. Aylan Kurdi.
o mar levou-o até terra e a a fotografia daquela criança está a correr o mundo. o problema destas pessoas não é de agora, mas parece estar a agravar-se - ou a ter mais impacto junto da comunicação social e redes sociais.
nós, impotentes, comovemo-nos. olhamos e queremos fechar os olhos logo de seguida, incrédulos.
quem pode fazer algo, vira a casa. nem se comove? será que nem chega a comover-se.
e o Kiran alerta e pede, de forma verdadeira e honesta, apenas uma coisa. a ouvir, aqui.