e hoje via um episódio dos beirais e perante a figura dos dois agentes funerários pensei: "mas já morreu alguém ali naquela aldeia? do que é que aquelas 'ssoas vivem?"
e depois pus-me a pensar na realidade à minha volta.
todos nós temos um amigo ou um conhecido que vive um bocadinho como estes agentes funerários: têm uma "profissão" ou "actividade", falam que não têm ordenado (ou seja, nunca morre ninguém nos beirais deles), queixam-se que aquilo que fazem não dá para viver. MAS.
MAS. vivem, sobrevivem, até vão de férias, vestem bem e almoçam fora todos os dias.
notem: não morre ninguém na aldeia deles. são agentes funerários que nunca se viu enterrar ninguém.
e eu, freelancer, com a vidinha muito contada, sem férias há 2 anos, quase me sinto mal por andar a contar tostões e evitar jantar ou almoçar fora, poupar na gasolina ou aproveitar os descontos do cartão continente. por fazer mealheiros para ir aos festivais de música, para as tatuagens, para pagar o iva trimestralmente ou ter um pocket money para um miminho para os meus.
uma escola, do 1º ciclo, onde se encontram alguns técnicos contratados para as chamadas AEC - actividades de enriquecimento curricular. no princípio do ano, os técnicos questionam se, quando e como vão ser avaliados. é-lhes apresentado um formulário com alguns critérios e uma tabela de classificação de 1 a 10.
os técnicos perguntam várias vezes como é que esse formulário vai ser aplicado, quais vão ser as formas (instrumentos, vá) de avaliação a ser utilizados. os professores, na escola, encolhem os ombros. não sabem. a direcção da escola não responde ou responde dizendo que ainda não sabe.
no final do ano lectivo, os professores, perdão, técnicos, recebem os tais formulários. o Luís, que trabalhava em três escolas do mesmo grupo, recebeu os formulários e verificou que a avaliação era muito díspar entre as três. o Luís resolveu perguntar quais eram os parâmetros que regiam os critérios e a tal tabela de classificação. o Luís, que é técnico de AEC no que ao ordenado diz respeito e um professor quando se trata de avaliação das crianças, assiduidade, pontualidade, competências pedagógicas, planificações e afins, o Luís ainda está à espera de saber o que é que fundamenta o quê.
é claro que uma escola assim não existe. era grave: afinal, estes professores avaliam os seus alunos, pois estão diariamente com eles. e depois avaliam os técnicos das AEC sem nunca ter assistido às aulas deles ou ter especialização nas diferentes áreas do saber.
'ssoa da entidade: então podemos agendar para o dia tal e tal, duas tardes, uma oficina num dia e duas oficinas no outro?
ladyB: sim, claro, à partida podem ser esses dias. mas deixe-me confirmar na agenda e envio e-mail para acertarmos, pode ser?
'ssoa da entidade: com certeza, ficamos à espera.
e eu enviei o e-mail. e até agora, nada.
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(por e-mail)
'ssoa da entidade: pretendo marcar uma reunião para a semana. pode indicar-me um dia e hora favoráveis?
ladyB responde ao e-mail com 4 hipóteses de data. essa semana passou, a outra, a outra e até agora... nada.
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(por e-mail)
'ssoa da entidade: podes enviar já os números para vermos como correu a gestão da conta. e depois falamos.
ladyB: enviar os número implica fazer um relatório, coisa que não está orçamentada no plano de gestão.
resultado: nem relatório, nem reunião, nem gestão da conta.
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(por e-mail)
'ssoa da entidade: "Para tal, será necessário que a Joana envie para os serviços (quanto mais cedo melhor) o recibo verde correspondente ao valor contratado".
ladyB envia RV no mesmo dia. recebe telefonema mais tarde:
"Falei hoje com a chefe de secretaria que me informou que o teu recibo com a data de Julho não é válido ou seja, o pagamento é feito em Agosto logo, o recibo terá de ter pelo menos o mesmo mês."
ladyB pede a contabilista paciente que anule o RV.
e agora vou ali reflectir sobre relações profissionais, parcerias e troca de favores.
com nervos à mistura, muitos convidados em palco para gerir e uma moderação para partilhar com o Miguel Ponte em forma de Amilcar Adeusinho, o crítico contratado da revista Gerador: assim foi a apresentação da quinta revista mai'linda de todo o sempre!
a fotografia é do Herberto Smith e apesar do meu dedo indicador em riste acreditem que estava a dizer coisas muito fofinhas ao Miguel Ponte.
conheci-o numa acção de divulgação do VIH/SIDA, num longíquo 1º de Dezembro, ia eu a caminho das estreias do Teatro Rápido, no Chiado.
conversámos um bocadinho até que lhe disse: vou ao TR, aparece lá. poder ver uma peça em 15 minutos. e ele falou-me que estava num grupo de teatro amador, que estudava farmácia.
uns meses depois o Miguel estava a defender uma peça no TR. uns anos depois tornámo-nos cúmplices desta aventura chamada Revista Gerador.
foi bom estar contigo no palco do MusicBox Lisboa, Miguel.
acho que foi mesmo a parte melhor da noite, para mim.